sábado, 17 de dezembro de 2005

Lembranças do não vivido...


Estou quieta neste cabo…
O vento beija-me a face.
Eu fecho os olhos e apenas vejo o teu sorriso banhar-me de luz.
Abro os braços para ti como se estivesses à minha frente.
O vento envolve-me e aperta-me…
O nevoeiro toma conta da minha consciência, e eu apenas estou ao pé de ti.
Tu permaneces à minha frente sorrindo-me.
E eu delicio-me com essa doce luz que irradias.
O brilho dos teus olhos que é diferente de qualquer outro.
Suavemente te afastas de mim…
Dizes-me adeus, mas sorris.
Eu sinto-me descansada…
Afinal, tu dizes-me que voltas já.
Fico sentada na beira do precipício.
A espuma, das doces ondas que rebentam, beijam-me os pés.
Deito-me para trás na relva macia.
O vento envolve-me!
O fio de calor que me atravessa o peito espalha-se pelo meu corpo.
Eu fico ali deitada, de olhos fechados, envolta na Natureza.
O coração dispara…
Abro os olhos…
Ao meu lado…
Ao meu lado estás tu!
Bem me disseste que já voltavas.
Estendes-me o braço e tocas-me no rosto.
Os teus olhos cruzam-se com os meus e ficamos ali…
Banhados pelo calor que o sol nos oferece…
Iluminados pelo brilho do nosso olhar.
O tempo perde-se, o espaço torna-se vazio.
Estamos apenas nós ali…
Só os teus olhos, doces, a olhar os meus.
O teu braço envolve a minha cintura.
Nunca desvias o olhar…
Os teus lábios de mel tocam nos meus…

Poderia ficar ali, até que o tempo intemporal se desvanecesse.

Lembranças do não vivido…

sábado, 10 de dezembro de 2005

A tua alma...


Segue o mar que não tem fim…
E para lá do tempo incontável encontra os bocados da alma que te foram arrancados…
Pensa com carinho nos minutos que não existem e no tempo que nunca passa…


Afinal tu permaneces no universo para toda a eternidade.

Ficam nas flores do campo verde os pequenos pedaços de alma que tu decides doar docemente à Natureza.
Tornas-te fada de uma época intemporal, da qual não há noticia.

Voas com as asas de uma alma que só à natureza pertence!
De uma alma que não é tua…
E não doas as asas…
As asas é que te foram doadas a ti…
Apenas as devolves a onde elas pertencem…

Sentas-te na beira do lago em que tudo se espelha com o rigor do que a tua alma vê…
Preenches o vazio que está no meio com a doce lembrança do que já foste.
És uma fada, tu sabes que consegues ver.
O espelho que está à tua frente simplesmente te chama e diz:
Já não me vês pela primeira vez…
Sabes tão bem que isto não é loucura…
Apenas sabes o que tens de fazer.
A alma por enquanto é tua…
Dá-lhe o que gostarias de dar a quem amas…
Porque a seguir, a seguir virás ter comigo, e ficarás a ver a tua alma novamente aqui sentada a fazer as mesmas perguntas que fazes agora.
Com uma diferença…
Tem mais amor.

Agora vai…

Alcança os infinitos sussurros, segue para lá do tempo intemporal, atravessa a doce barreira escura do céu…

Ama…

Doa à Natureza o que ela te doou a ti…

E os pedaços que ficam perdidos da tua alma, serão encontrados por aqueles que te possuem…

domingo, 4 de dezembro de 2005

Como o Universo é perfeito...


Acabo de perceber o quão perfeito é o Universo.

Sofro imensamente uma perda.

Ainda não me consigo consciencializar que aquele ser que tantas vezes me agarrou no colo já não está aqui.
Afinal já não estás mesmo aqui.
Não pertences mais à vida que nós conhecíamos.
Enquanto me preparo emocionalmente para encarar uma realidade não muito bem definida em mim, após um dia enterrada no meu doce mundo, recordo as primeiras palavras, depois de teres partido, de alguém que contigo partilhou uma vida.
Penso nelas com doçura.
Acende-se cá dentro uma última coisa que poderia fazer por ti.
Estás-me a ver e eu sei.
Gostarias então de me ver assim.
Pego em cada peça que compõem uma tradição única, que é mais do que uma roupa… Visto-me.
Pego na capa, a capa que tudo guarda, de bom e de mau.
Porque a ti, porque para ti, eu sei o que era.
Na minha capa ficará também guardado o momento da tua partida, ficará também a minha última homenagem a ti.
Sei que era assim que gostavas de me ver.

Não sei até que ponto estou consciente do que se passou.

Como o Universo é perfeito.
Feito do que há de mais bonito e de mais horrível.
Cheio de amor e de sofrimento.
Que ambas as faces se completam, e se unem, para dar a paz e a força de viver.

Docemente recordo o momento em que te reencontrei.

Tinha acabado de prestar a minha última homenagem a alguém que se foi embora, sem se despedir de mim, aqui na fisicalidade.

Não me vou esquecer nunca que a primeira vez que me viste, depois de tanto tempo, foi com o mesmo traje, com a mesma capa, que guarda escrita em si uma história, que agora te contém a ti.
Reencontrei-te não só a ti…
Também os laços, que estavam largos de quase soltos com alguém de quem era quase irmã, se voltaram a ligar.

O Universo é tão perfeito que não me deixou ficar com o peso sozinho de uma perda. Mas que me concedeu a doçura de te reencontrar, e de poder reaver laços que quase se tinham perdido.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2005

Até Logo...


Vieste não foi?
Vieste como uma sombra que se abateu…
Eras ao início uma sombra.
Um frio que se abateu sobre nós…
Olho para ti outra vez e sinto-te como uma luz.
Quente e amena.
Vieste buscá-la…

Estavas entre o teu corpo que agonizava e o universo de luz…
Ele veio e deu-te a mão…
Ainda não querias partir.
Tinhas medo.
Tinhas medo pelos que cá ficavam.

Sim…
Cá ficámos.
Sim a sofrer, sim dói.
O sofrimento que se passa é compensado pela paz que alcanças.
Agora tudo passou…
Fica a tua ausência.
Mas para sempre serás recordada.
Para sempre serás amada.
A ausência que sentimos sempre será compensada com as recordações boas que temos.


Amo-te…


Até logo avó…


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segunda-feira, 28 de novembro de 2005

Sim, vai-se!



Vejo o espelho da morte quase diariamente à minha frente.
Sei que paira ali como paira em cada destino das almas aqui habitantes.
Naquela paira mais próximo…
Tão próximo que a começo a sentir.
É fria sim.
Imóvel também.
Afoga.
Toca-me…

Ainda vejo o egoísmo em todos nós.
Todos nós que te amamos!
Um egoísmo de pensar primeiro na perda que iríamos sentir se fosses embora.
Cada vez penso mais quão egoísta é a medicina.
Em certos casos sim.

As lágrimas lavam-me a face e eu só consigo dizer que te amo.
Só consigo sentir que a tua vida se está a esvair de uma forma muito injusta.
Só queria que os anjos te dessem a mão e que te levassem a passear no doce e sereno passeio pelo campo verde.
Eles não te vão largar…
Prometo-te.


Não consegues?!
Nós prendemos-te aqui não é?
Dá-me a mão.
Não tenhas medo.
Eu sei…
Maioria das formas de pensar é:
“Temos que ter fé e força para viver…”
Ainda me escorrem as lágrimas e eu digo-te:
“Temos de ter força para agarrar as suas mãos…”
Vejo-te a tentar sobreviver.

Acho que a vida é apenas uma pequena coisa:
Amar e viver feliz!

Perguntam-me:
Ficarias mais feliz se ela agarra-se a mão do anjo??
Sim ficaria… Eu respondo!
Então não a amas…
Muito pelo contrário…

Os dias de meninos...


O despertador toca e eu acordo dos meus sonhos cor-de-rosa que me habitavam o ser.
Acordo, num doce leito quente e confortável, de onde se escuta a chuva insistente a bater no telhado sobre a minha cabeça.
Permaneço ainda uns minutos deitada a escutar a chuva e a pensar que mais um dia virá.
Mais um dia como todos os outros, numa rotina fixa, de levantar, vestir, sair de casa, ir para a faculdade, encontrar amigos e colegas, ouvir professores e no final do dia regressar a casa.
Mais um dia de uma vida repleta destes dias iguais a tantos outros.
Não serão os dias todos iguais?
Com o mesmo número de horas, de minutos e de segundos…
Às vezes com chuva, às vezes com sol.
Umas vezes com vento outras vezes serenos.

Mas não, não são todos iguais…
Cada dia é único!

Assim como o nosso interior se encontra de uma forma única todos dias.
Todos dias há sorrisos diferentes.

Descobrimos sempre coisas novas!

Hoje dou por mim, numa manhã chuvosa e bem escura, a olhar pela janela, e vendo o meu reflexo distorcido.
Lá fora está escuro e da janela não se vê mais que apenas os contornos sumidos do horizonte.
Dou por mim a pensar no doce cantar dos pássaros, dos dias amenos em que nos encontrávamos e passeávamos pela pequena vila que ainda nos habita a memória.
Passeávamos no castelo, e corríamos por aquele espaço aberto, felizes e a sentir a doce brisa nos rostos de meninos que tínhamos na altura!
Ainda me lembro de cada momento daqueles dias quentes.
Daqueles em que a cada momento um sorriso surgia e a doçura nos invadia, brincadeiras que não acabavam, e que tornavam cada simples passo único.
Hoje as coisas são diferentes, não somos tão meninos assim.
Não somos tão meninos, e por muitos anos, nos impedimos de passear no castelo que habitava os nossos dias, as nossas brincadeiras. Que hoje habita os nossos sonhos e a nossa imaginação, a nossa memória e o nosso coração.
Lembro-me do teu doce olhar reguila, da tua inquietude de menino, que corria e brincava por aquelas ruas, que me pegava na mão e me abraçava, que brincava comigo…
Nunca me esqueci desses doces momentos.
Agora é de manhã e está a chover, algures na tua casa te levantas também para uma rotina só tua.


Retorno ao meu corpo que permanecia prostrado diante da janela, mirando o seu próprio reflexo indefinido.

Volto à minha rotina do dia-a-dia, despacho-me…

E bato a porta...

Vou-me embora...

quarta-feira, 23 de novembro de 2005

A dança com o Vento...


Soltei-me do meu corpo…
Aquele corpo terreno que lá prostrado ficou!
Danço rodopio como o vento numa doce tarde dourada, num relvado junto ao mar…
Rodopio duas três vezes…
Todas as vezes que me apetecer.
Não penso em mais nada.
Não penso sequer que sou vento…
Que sou luz.
Que sou nada…
Um nada que é tudo!!
Sou tudo o que aquele corpo um dia foi.
Danço e balanço ao sabor do vento.
Trago em mim um vestido tão bonito como nunca o meu corpo terreno trouxe.
Um vestido de luz e magia!
Abro os braços para o mar.
Ele docemente me beija.
Docemente me abraça.
Sou igual a ele.
Posso nele me deitar sem nunca diferença fazer.
Voo até ao horizonte.
Afinal ainda existe horizonte.
Onde estás sentado tu meu anjo.
Vejo-te agora sorrindo para mim.
Só tu me vês não é?!
Neste vestido só tu me vês!
Lanço-te um sorriso com o olhar que não tenho…
Doce e saudoso…
Tu recebe-lo!
Sorris!
Sempre me protegeste quando estava presa no meu corpo…
Ainda tenho saudades tuas.

"Vai…
Vai para baixo.
Chega de voos onde ainda não te consegues manter"
.
Dizes-me tu, Meu anjo guardião.

Sim desci.
Calma e serena.
Fica guardado, aqui bem fundo!
A dança com o vento.
Os meus doces fios de mar.

terça-feira, 22 de novembro de 2005

Cheguei...



Cheguei sozinha...
Pelo caminho tive mãos dadas com os anjos...
Com homens...
Com mulheres...
Com todas as pessoas que comigo se cruzaram.
Muitas delas apenas me tocaram.
Outras deram comigo muitos passos...
Mas ainda aqui estou e cheguei sozinha.

Sempre segui por um caminho que seria só meu, por mais pessoas a quem desse a mão...
Sempre soube que chegaria sozinha!

Deitada na cama ainda penso nos dias que virão nas pessoas que conhecerei.
Ainda penso o significado do que já vivi...
Ainda penso nas pessoas que já falei e de quem me perdi.
Ainda penso nas pessoas que re-encontrei.
Penso nos que ainda irão vir.
E penso mesmo em quem está.
Porque está?!
Continuo deitada na minha cama e começo lentamente a esvaziar-me...
O vazio negro começa a consumir-me.
Já quase deixo de sentir o meu corpo.
Vejo imagens que nunca vi mas que conheço.
Vejo paisagens que já senti sem nunca ter lá estado.
Sinto de novo o meu corpo...
Aquele que o verdadeiro eu habita.
De novo, começa a levitar o meu corpo que não o que se apalpa.
Começa a querer levantar.
Começo a não sentir aquele...
Aquele que ali está postrado numa cama, na escuridão.
Já não o sinto e agora a escuridão toma conta de mim...
Começa a apertar-me, a envolver-me...
Sim...
A envolver-me!
Tu, tu estavas lá...
Começa a envolver os membros...
Depois o tronco...
Por fim a cabeça.
Termina no coração!!


Morri...