segunda-feira, 28 de novembro de 2005

Sim, vai-se!



Vejo o espelho da morte quase diariamente à minha frente.
Sei que paira ali como paira em cada destino das almas aqui habitantes.
Naquela paira mais próximo…
Tão próximo que a começo a sentir.
É fria sim.
Imóvel também.
Afoga.
Toca-me…

Ainda vejo o egoísmo em todos nós.
Todos nós que te amamos!
Um egoísmo de pensar primeiro na perda que iríamos sentir se fosses embora.
Cada vez penso mais quão egoísta é a medicina.
Em certos casos sim.

As lágrimas lavam-me a face e eu só consigo dizer que te amo.
Só consigo sentir que a tua vida se está a esvair de uma forma muito injusta.
Só queria que os anjos te dessem a mão e que te levassem a passear no doce e sereno passeio pelo campo verde.
Eles não te vão largar…
Prometo-te.


Não consegues?!
Nós prendemos-te aqui não é?
Dá-me a mão.
Não tenhas medo.
Eu sei…
Maioria das formas de pensar é:
“Temos que ter fé e força para viver…”
Ainda me escorrem as lágrimas e eu digo-te:
“Temos de ter força para agarrar as suas mãos…”
Vejo-te a tentar sobreviver.

Acho que a vida é apenas uma pequena coisa:
Amar e viver feliz!

Perguntam-me:
Ficarias mais feliz se ela agarra-se a mão do anjo??
Sim ficaria… Eu respondo!
Então não a amas…
Muito pelo contrário…

Os dias de meninos...


O despertador toca e eu acordo dos meus sonhos cor-de-rosa que me habitavam o ser.
Acordo, num doce leito quente e confortável, de onde se escuta a chuva insistente a bater no telhado sobre a minha cabeça.
Permaneço ainda uns minutos deitada a escutar a chuva e a pensar que mais um dia virá.
Mais um dia como todos os outros, numa rotina fixa, de levantar, vestir, sair de casa, ir para a faculdade, encontrar amigos e colegas, ouvir professores e no final do dia regressar a casa.
Mais um dia de uma vida repleta destes dias iguais a tantos outros.
Não serão os dias todos iguais?
Com o mesmo número de horas, de minutos e de segundos…
Às vezes com chuva, às vezes com sol.
Umas vezes com vento outras vezes serenos.

Mas não, não são todos iguais…
Cada dia é único!

Assim como o nosso interior se encontra de uma forma única todos dias.
Todos dias há sorrisos diferentes.

Descobrimos sempre coisas novas!

Hoje dou por mim, numa manhã chuvosa e bem escura, a olhar pela janela, e vendo o meu reflexo distorcido.
Lá fora está escuro e da janela não se vê mais que apenas os contornos sumidos do horizonte.
Dou por mim a pensar no doce cantar dos pássaros, dos dias amenos em que nos encontrávamos e passeávamos pela pequena vila que ainda nos habita a memória.
Passeávamos no castelo, e corríamos por aquele espaço aberto, felizes e a sentir a doce brisa nos rostos de meninos que tínhamos na altura!
Ainda me lembro de cada momento daqueles dias quentes.
Daqueles em que a cada momento um sorriso surgia e a doçura nos invadia, brincadeiras que não acabavam, e que tornavam cada simples passo único.
Hoje as coisas são diferentes, não somos tão meninos assim.
Não somos tão meninos, e por muitos anos, nos impedimos de passear no castelo que habitava os nossos dias, as nossas brincadeiras. Que hoje habita os nossos sonhos e a nossa imaginação, a nossa memória e o nosso coração.
Lembro-me do teu doce olhar reguila, da tua inquietude de menino, que corria e brincava por aquelas ruas, que me pegava na mão e me abraçava, que brincava comigo…
Nunca me esqueci desses doces momentos.
Agora é de manhã e está a chover, algures na tua casa te levantas também para uma rotina só tua.


Retorno ao meu corpo que permanecia prostrado diante da janela, mirando o seu próprio reflexo indefinido.

Volto à minha rotina do dia-a-dia, despacho-me…

E bato a porta...

Vou-me embora...

quarta-feira, 23 de novembro de 2005

A dança com o Vento...


Soltei-me do meu corpo…
Aquele corpo terreno que lá prostrado ficou!
Danço rodopio como o vento numa doce tarde dourada, num relvado junto ao mar…
Rodopio duas três vezes…
Todas as vezes que me apetecer.
Não penso em mais nada.
Não penso sequer que sou vento…
Que sou luz.
Que sou nada…
Um nada que é tudo!!
Sou tudo o que aquele corpo um dia foi.
Danço e balanço ao sabor do vento.
Trago em mim um vestido tão bonito como nunca o meu corpo terreno trouxe.
Um vestido de luz e magia!
Abro os braços para o mar.
Ele docemente me beija.
Docemente me abraça.
Sou igual a ele.
Posso nele me deitar sem nunca diferença fazer.
Voo até ao horizonte.
Afinal ainda existe horizonte.
Onde estás sentado tu meu anjo.
Vejo-te agora sorrindo para mim.
Só tu me vês não é?!
Neste vestido só tu me vês!
Lanço-te um sorriso com o olhar que não tenho…
Doce e saudoso…
Tu recebe-lo!
Sorris!
Sempre me protegeste quando estava presa no meu corpo…
Ainda tenho saudades tuas.

"Vai…
Vai para baixo.
Chega de voos onde ainda não te consegues manter"
.
Dizes-me tu, Meu anjo guardião.

Sim desci.
Calma e serena.
Fica guardado, aqui bem fundo!
A dança com o vento.
Os meus doces fios de mar.

terça-feira, 22 de novembro de 2005

Cheguei...



Cheguei sozinha...
Pelo caminho tive mãos dadas com os anjos...
Com homens...
Com mulheres...
Com todas as pessoas que comigo se cruzaram.
Muitas delas apenas me tocaram.
Outras deram comigo muitos passos...
Mas ainda aqui estou e cheguei sozinha.

Sempre segui por um caminho que seria só meu, por mais pessoas a quem desse a mão...
Sempre soube que chegaria sozinha!

Deitada na cama ainda penso nos dias que virão nas pessoas que conhecerei.
Ainda penso o significado do que já vivi...
Ainda penso nas pessoas que já falei e de quem me perdi.
Ainda penso nas pessoas que re-encontrei.
Penso nos que ainda irão vir.
E penso mesmo em quem está.
Porque está?!
Continuo deitada na minha cama e começo lentamente a esvaziar-me...
O vazio negro começa a consumir-me.
Já quase deixo de sentir o meu corpo.
Vejo imagens que nunca vi mas que conheço.
Vejo paisagens que já senti sem nunca ter lá estado.
Sinto de novo o meu corpo...
Aquele que o verdadeiro eu habita.
De novo, começa a levitar o meu corpo que não o que se apalpa.
Começa a querer levantar.
Começo a não sentir aquele...
Aquele que ali está postrado numa cama, na escuridão.
Já não o sinto e agora a escuridão toma conta de mim...
Começa a apertar-me, a envolver-me...
Sim...
A envolver-me!
Tu, tu estavas lá...
Começa a envolver os membros...
Depois o tronco...
Por fim a cabeça.
Termina no coração!!


Morri...